Onda bravia
Clausewitz, teórico da arte bélica, considerou a guerra assunto muito sério para decisão única de generais. Parafraseando-o, em momento de crise mundial, diríamos que a economia é assunto sério demais para economistas – sobretudo, economistas oficiais. É o mínimo a deduzir do pânico que, de repente, assalta a nau-capitânia das finanças nacionais.
Os cordões da bolsa bancária, que pareciam frouxos, com sobras para quantos pedissem créditos, são apertados de chofre. A bolsa suspende os pregões na tentativa de deter a velocidade da queda. E as carteiras dos bancos de menor porte esvaziam-se num átimo, mal a onda começa a espraiar-se. Seis medidas heróicas foram tomadas segunda-feira, para salvar a nossa já agora ameaçada saúde financeira.
Reunidos, o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central receitaram injeções de dinheiro grosso para fortalecer empresas, regular o comércio externo, intervir no mercado futuro contra a disparada do dólar. Para isso, recorrem às reservas cambiais antes mencionadas com evidente galhardia. Mas deixam pendente a pergunta incômoda: até quando ou até que ponto elas podem socorrer sem desequilibrar as contas externas e malbaratar o mercado interno.
Efeitos nocivos já repercutem no bolso e afetam o crédito, que antecipa sinais de escassez. Na fatal segunda-feira, à noite, quando todos os gatos parecem pardos, o presidente Lula assinou medida provisória com indicativos às instituições para o combate iminente. Em suma, na base de frases de efeito e discursos edulcorados,o governo vendia ao País um peixe que não costuma nadar em águas de mar revolto, onde evoluem os polvos de tentáculos cada vez mais asfixiantes.
O mar da economia se encapela, as marolas se transformam em vagalhões. Além da possível blindagem do barco, seria necessário pulso firme no leme e, em especial, binóculo de longo alcance.